Pascoas felizes
La Palma. La Mona. A quinta-feira Santa.
O folar. As amêndoas. A sexta-feira Santa.
A festa é a mesma, as celebrações diferem em nomes, costumes e dias. O importante é que há férias para todos de Portugal à Catalunha. E da Catalunha a Portugal a semana Santa não foi muito abençoada pelo sol mas, como cada ano, satisfez as duas adorações antitéticas que a marcam a sua especificidade: a adoração dos martírios de Cristo e a adoração dos ovos e coelhos de chocolate. Na primeira, as pessoas enchem-se de alegria para participar em tristes e solenes procissões, comandadas por estátuas religiosas, devidamente recatadas da chuva. Na segunda, onde eu sou devota, as pessoas enchem-se de alegria para esvaziar o bolso nas apetitosas montras de chocolates esculturais.
Quando era pequena os meus pais compravam doses industriais de kinder surpresa e escondiam-nos por toda a casa. Era um apogeu semelhante à manha de Natal, essa busca incessante até encontrarmos todos os ovos: detrás das molduras de fotos, debaixo da almofada, dentro da banheira cor de rosa da casa da Barbie.
Chamem-me etnocêntrica, mas a mim parece-me imensamente mais interessante caçar ovos kinder que andar a bater com um pau na terra à saída da missa de Domingo. Chama-se “La Palma” e é a tradição infantil cá do sítio. Eu sou da opinião que se vamos descartar o lado didático de uma atividade para crianças tem de ser por uma boa causa: cacau, açúcar e brinquedos surpresa.
Para compensar, têm “La Mona” que é um bolo com um boneco, ou em forma de boneco, tradicionalmente feito pelo padrinho para oferecer ao afilhado. Pode ser com um tubarão, com o Bob Esponja, ou com a cara do Messi. Ora façam-me o favor, bolos com bonecos são para as festinhas de aniversário, não para a ressureição do Senhor!
O bom do folar com o simbólico ovo no meio é, irrefutavelmente, mais adequado a tão sagrada ocasião. Não obstante, todas as pastelarias de Barcelona dão uma clara preferencia aos bolos do Messi.
A única coisa em que talvez possa estar de acordo com a Pascoa catalã, é a santidade dos dias. Desde quinta-feira que todos são Santos, o que faz sentido se pensarmos que estamos na SEMANA santa. Mesmo assim, faz-me confusão que o Domingo não seja O Domingo de Pascoa, mas só mais um dia no rol dos dias beatificados.
E, principalmente, não me conformo que amanha já seja dia de ir trabalhar outra vez.
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