Tirem-me daqui!
Domingo é o meu único dia de folga. Ou, como se diz em
terras de La Roja, “dia de fiesta”. Mas festa hoje é um termo longínquo. Hoje,
depois de uma semana abrasadora, choveu torrencialmente, com direito a trovões,
relâmpagos, vento e todo esse cocktail de condições atmosféricas que
impossibilitam quaisquer planos de reforço do bronzeado.
Não me querendo dar por vencida no meu “dia de fiesta”
decidi que era boa ideia ir espreitar o primeiro dia de saldos. A falta de sol
tem claramente um efeito nefasto no meu tico e teco. Filas até ao infinito e
mais além para os provadores, filas até ao infinito e mais além do além para
pagar, um formigueiro de gente em todas as lojas e nada de jeito. As roupas arrumadas estilo feira da ladra, que
para encontrar alguma coisa gira seria necessário desenterrá-la, entre
cotoveladas, de todo um emaranhado de
cadáveres de pano. E eu para medicina forense nunca tive queda.
De volta a casa o moço começou a pressionar que queria ver o
jogo de Espanha. Era só o que me faltava, ter de ver o jogo da Espanha na minha
própria casa.
E no entanto cá estamos, ele refastelado no sofá a esfregar
as mãos de contente, os vizinhos a atirar foguetes e os comentadores na sua
linha “Não há duas sem três, vamos fazer história, Espanha é a melhor do mundo,
Iniesta é o melhor do mundo, Casilhas é o melhor do mundo, Xavi é o melhor do
mundo…” e assim sucessivamente. Eu cá não
percebo como é que os salários são tao baixos e a taxa de desemprego é a mais
alta da Europa se estamos neste país tão fabuloso que é o melhor do mundo, que está cheio
de espanhóis que são todos os melhores do mundo e quem disser o contrário é
ostracizado.
Ainda por cima Itália, a minha última esperança, começou a
perder desde tenros minutos, afastando qualquer réstia de vontade de assistir ao jogo para ver a Espanha ganhar outra vez.
Ao primeiro “Vamos!” que ele soltou respondi-lhe logo “ A ver
se não vais tu pela janela fora”. Desde então está a conter-se.
Estou aqui a cogitar interpor uma baixa por depressão, que
isto de ser portuguesa por estas bandas é uma tarefa hercúlea.
E pronto, acabam de marcar o quarto.
Quero emigrar.
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