A festa no barco
Segunda era uma noite de descanso que se transformou num festival
para lá do imaginável.
Primeiro ia dizer que não, mas essa força motriz que é o dinheiro
chamou mais alto. Estar com a lista de convidados de uma festa privada num
barco das 9 às 11. Piece of cake. Bar
aberto e comida grátis. Toca a convidar as amigas. O namorado colou-se ao plano, como bon
vivant que é.
Quando me disseram que esperavam 200 pessoas, comecei a suspeitar que o
“barco” não podia ser um barquinho comum e corrente.
Quando chegámos ao porto vimos
uma multidão apinhada a tirar fotografias. OMG! Aquilo não era um “barco”, era
um navio de cruzeiro! Fazia os iates que vi no Porto do Saint Tropez parecerem
pequenas lanchas em segunda mão.
E que prazer mais delicioso o de controlar quem acedia e quem não
acedia a este pedaço de luxuria flutuante. Senti-me uma bad guy em toda a
regra! Principalmente porque estava escoltada por 3 guarda-costas, mais outros
tantos motoristas de mercedes que aguardavam,
pacientes e em fila, o momento em que algum dos habitantes do barco decidisse
sair do seu harém.
Às 11 fechei as portas, que é como quem diz, subi a bordo. E que
melhor sopresa do que encontrar um buffet imenso, de fazer inveja a muitos
casamentos, com lagostas, carnes, peixes, frutas, doces e tudo mais a que o
pecado da gula se pode referir. Quando me disseram comida grátis eu pensei que
seria um “pica-pica”, uns croquetes, umas saladas, o de sempre. Mas bastou ver
as lagostas gigantes no centro da mesa, para saber que aquilo ia ser tudo, menos o de sempre.
Estávamos noutra dimensão muito além da nossa realidade. E isso
que este era o “barco pequeno”, os donos tinham outro, muito maior. Há barcos
maiores que este que não sejam destinados a fins comerciais??? Choque.
Neste “pequeno barco” havia 25 camarotes, ginásio e outras
comodidades que tal, bem como um número infinito de staff, guarda-costas e tripulação.
E eu nunca tinha visto Barcelona desde o mar, com cobertura de estrelas. Na
verdade, eu nunca tinha visto nada assim.
O ponto de aterragem do helicóptero era agora a pista de dança,
onde um Dj tocava animadamente. Ao outro lado emergia o jacuzzi, rodeado de
agradáveis colchoes onde pulámos e dançámos qual anúncio dos coelhos da
Duracell, enquanto Barcelona deslizava no horizonte. Dançámos porque a música a isso
obrigava e pulámos porque estávamos felizes, rainhas da noite no topo do mundo. Mas havia outra razão ainda
maior que o topo do mundo, que nos motivava a fazer bungee jumping à volta do
jacuzzi: quanto mais paradas nos mantivéssemos, mais os solavancos das ondas se
revelavam prejudiciais ao nosso equilíbrio físico e estomacal. E ninguém quer
vomitar uma lagosta borda fora não é verdade?
As fotografias dentro do barco estavam proibidas pelos anfitriões,
o que foi uma pena porque essas imagens valeriam mais que todo este blog. O
luxo e a riqueza daquele barco extravasam qualquer tentativa literária de reprodução. São momentos que contados sabem
a pouco, é o ver para crer.
Agora sei como é que os milionários passam as férias de Verão: a
passear pelos melhores portos, com cruzeiros privados, onde montam festas de
arromba! Acredito que a isto se chama qualidade de vida.
Já passava das 4 da manha quando o barco regressou, ainda que nós estivéssemos
prontas para desembarcar às 2, porque fazia um pouco de frio e já estávamos
cansadas. Queríamos dormir. E foi mesmo com muita gente a dormir enrolada em
toalhas nas espreguiçadeiras, que a noite terminou.
O que não deixou de ser um pouco ridículo, afinal era uma noite de
verão, com comida e bebida
non stop, num barco de luxo no Mediterrâneo. O que me leva a cogitar que as
nossas hipóteses de sobrevivência no Titanic teriam sido de aproximadamente 5
minutos.
No dia seguinte, o barco foi para Ibiza e eu fui apanhar o metro,
qual Cinderela depois da sua noite encantada, mas com mais olheiras.
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