Interpretando Munch
A Catalunha gritou mas a Espanha não ouviu. Ou não quis ouvir.
A história é feita pelos vencedores e os catalães foram os
derrotados a 11 de Setembro de 1714 (lado a lado com os portugueses), na guerra
da sucessão do trono espanhol. Mas hoje, ou mais precisamente ontem, 11 de
Setembro de 2012, eles decidiram escrever outra história, há muito esboçada. As
sondagens variam entre 600.000 e 2 milhões de manifestantes. Estas cifras,
pintadas com as cores da “Estelada”, a bandeira independentista, colapsaram
Barcelona desde o cimo do Passeig de Gràcia até às margens da Plaza Urquinaona.
Ia ser um movimento, mas veio tanta gente que se consumiu o espaço para movimentações
e nasceu uma concentração.
Uma multidão de todas as idades e de todas as
nacionalidades, mas principalmente da catalã, evocou a liberdade, exigiu a independência
para a Catalunha, o seu país.
Aqui o 11 de Setembro não é um dia de luto mas de luta. As
lágrimas, se as houver, serão choradas pela revolução.
Eu não fui. Não sou partidária da independência nem do seu
oposto. Não sei os prós nem os contras
da “Catalunya lliure”. Tenho amigos que são a favor e que foram à manifestação e
tenho outros que não e que foram à praia. Vivo aqui, sim, mas não reivindico
esta terra.
Tenho uma opinião, claro que tenho, é a de que a nacionalidade
da classe política não transcende a sua essência. Hesito, por isso, em ceder à crença de que as coisas vão
melhorar por estar no comando um Oriol, Xavi ou Jordi em vez de alguém chamado
Mariano ou José Luis.
No entanto admiro a garra, o
companheirismo e a mobilização em que esta nação parou ontem. Bateram o pé pelo
que acreditam ser a justiça, o seu direito, a solução? Talvez. Ou talvez seja
um erro, mas pelo menos tentaram. Como diziam os meus treinadores de basket "se não laçarem ao cesto de certeza que não ganhamos".
Então eu espero e desejo com toda
a minha força e pontaria, que Portugal também convoque, caminhe, concentre,
grite e atire, nessa saída conjunta à rua que estão a planear para o dia 15. Aí
era onde eu gostava de me alistar. Pelos meus pais, pela minha irmã, pelo meu
tio, pela minha vizinha, pelos amigos, pelos filhos dos
amigos, pelos ex colegas de trabalho, pelos professores, pelos funcionários, pela
minha terra. Aí faz todo o sentido a reivindicação. Aí sei quais sãos os
contras de recortar a quem menos ganha, de esmiuçar quem já não tem nada para
dar, de vender os jovens ao capitalismo empresarial e alugar o direito público.
Os prós não sei, porque não os há.
A Catalunha gritou mas a Espanha não
ouviu. Ainda.
Portugal tem de gritar mais alto.
Até o mundo inteiro ouvir.
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