Bilboko
A geometria distorcida recebe-nos com braços arqueados
quando entramos na cidade, guardada por Puppy, o cão que tem flores na boca em
vez de uma mordaça.
Mas o cenário de Alice no país das maravilhas, metido num
quadro de Dali, só envolve o Guggenheim...
... o resto, o resto parece o Porto! As casas antigas apinhadas com graça à beira rio, as gentes
de expressões duras, brutos chamam-lhes os espanhóis. Sim, porque os vascos,
como os catalães, também não são espanhóis. O desejo de independência paira no
ar, lado a lado com o fresquinho do Outono nortenho.
As várias igrejas aumentam consideravelmente o número de
monumentos mas a Bilbao não se vai para ver, vai-se para comer. Os pintxos de
Bilbao, expostos em toda a rua que se preze, são a principal atração da cidade. Há mais
bares de pintxos que turistas franceses no Guggenheim, que já são beaucoup de beaucoup.
Nós comemos muito bem sim senhor, em dois mexicanos. Na primeira noite porque já não havia mais
nada aberto e no almoço de despedida pela mesma razão. Como dizia o nosso taxista, um dos poucos
bilbainos a trabalhar no feriado,
“Bilbao não está preparada para o turismo”. Bilbao não é, realmente, uma
cidade turística. Quase não chega a ser uma cidade de tão rápido que se pode
cruzar de uma ponta a outra. O shopping não é atraente, graças a Deus, e a
noite não é efervescente e trepidante como em Ibiza ou Barcelona, ou até mesmo
no Porto. Não há sítios da moda, o pessoal gosta mesmo é dos bares de pintxos e
é aí que se concentra a animação popular.
Nós encontrámos divertimento no Bingo, apesar de termos
gasto 40 cartões sem ganhar nada, e de só haver mais 5 pessoas a jogar. Era um
bingo glamoroso, estilo Las Vegas, provavelmente o sitio mais bem decorado de
Bilbao, e estava vazio. Daí fomos, de limusina e sem pagar, até uma discoteca
chamada Cúpula, passando pelo The Loft, outra discoteca de renome na noite
vasca. Podíamos ter ido numa carroça puxada por dois burros que o efeito teria
sido o mesmo. Estavam ambas vazias, com teias de aranha à porta que eram parte
da decoração de Halloween mas representavam na perfeição o terror do
panorama. Já o bareto de pintxos em
frente do hotel estava a transbordar de gente.
Posto isto, os dias foram mais proveitosos do que as noites,
principalmente o primeiro, cheio de sol e tranquilidade. Caminhámos desde o
Ayuntamiento até à Igreja de San Atonio, passando pela Teatro, pela estação de
Santander e pela Catedral de Santigao, no coração do casco velho.
Parámos para
petiscar uns pintxos, no que foi o nosso momento mais tradicional da viagem. Subimos
pela avenida das lojas até ao palácio Chiavalli, deixando para trás o palácio
da Diputação, e descemos até uns jardins onde só havia uns patos e uma fonte.
Mas era um recanto romântico e bucólico pelo que pedimos que nos tirassem uma
foto com a fonte de fundo. A exímia fotógrafa que abordámos pela rua conseguiu
o impossível! Ora digam-me vocês se conseguem ver alguma fonte nesta
fotografia.
Mais adiante, depois
da Torre Iberdola, desembocámos no Guggenheim e no Puppy e não descansámos
enquanto não encontrámos a escultura de uma aranha gigante. Ele tinha visto no
mapa e queria tirar uma foto. Obrigou-me a tirar umas 5 fotos até estar
satisfeito com o resultado. Esta, não foi
uma delas.
Assim, em meio dia, conhecemos Bilbo, Bilboko, Bilbao.
Não obstante, falhámos em conseguir encontrar um sitio onde
tomar um chocolate quente para rematar o trajeto em beleza. Lá onde fossemos,
só havia pintxos.
Não é uma cidade que nos apresse a voltar nem a trazer as
malas indefinidamente. É uma cidade pequena com todas as condições e estruturas
de uma cidade grande mas sem todas as chatices e os perigos de uma cidade
grande. E as pessoas são felizes assim, isso é que é bonito de se ver.
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