Dizem que foi uma chapada na cara
Os jornalistas vieram de todos os cantos e recantos. E
porquê? Porque é que na França e na Holanda e em Portugal querem saber o
resultado de umas eleições regionais de Espanha? Uma correspondente do Japão,
sim do Japão, sumarizou bem a resposta: porque não entendemos como é que a Catalunha
pode ser independente, nós somos muitos, vivemos todos no mesmo país e ninguém
se quer separar. Ora ai está o busílis da questão, os Catalães também vivem num
mesmo país, estas não eram umas eleições regionais, eram nacionais. E o resto
do mundo teve de vir cá espreitar, para tentar explicar, tentar entender. Não é
uma questão de falta de espaço ou metros quadrados. É uma questão de cultura e sentimento.
O controlo das suas próprias finanças é o único argumento lógico desta luta e,
ainda que extremamente válido, porque é verdade que o governo central tira dos catalães
para dar aos espanhóis, a independência não vem do bolso, vem do coração.
Com isto em mente e as questões lógicas deixadas de lado, o
Artur Mas convocou eleições antecipadas convencido de que conseguiria a maioria
absoluta no parlamento catalão, simplesmente por se apoiar no estandarte da independência.
Com um partido de direita que se chama Convergência e União (CiU). Como se não bastasse
essa ironia irreconciliável, este partido é protagonista dos maiores escândalos
de corrupção política da Catalunha, alguns ainda por resolver. O que a mim me
surpreende não é que o Ciu tenha saído destas eleições com menos 12 deputados, falhando assim redondamente no seu objetivo de reunir a
maioria absoluta. O que me surpreende é que o CiU tenha ganho outra vez as eleições
sem apresentar uma única proposta de gestão. Nada sobre o desemprego, nada
sobre as reformas, nada sobre os recortes. Nada de nada. Só o Artur com a estellada atrás (bandeira da independência catalã, representativa dos partidos separatistas
de esquerda) num aceno de mão algo Hitleriano. E ainda assim, com a péssima
campanha, os incontáveis escândalos e a falta de conteúdo, ganharam as eleições.
É certo que foi uma derrota (os jornais chamaram-lhe um "hostión" - chapadão), na medida em que o que eles queriam
ganhar era o poder de decisão, garantido por esses 68 votos que fazem a maioria
absoluta. Mas os factos são os factos: o CiU teve mais votos que todos os
outros partidos, tem 50 deputados (mais do dobro que a Esquerda Republicana, o
segundo partido com mais deputados no parlamento Catalão) e o Artur Mas continua
a ser presidente da Catalunha.
Não sei se os meios de comunicação estrangeiros ficaram
esclarecidos quanto à questão da independência, eu confesso que este resultado
só me deixou mais dúvidas quanto ao bom senso do povo catalão.
Pelo menos a “maioria” não foram todos. Houve gente que
percebeu que lhes estavam a mandar areia para dentro dos olhos e foi votar para
outros quadrados. Abençoados sejam.
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