Treino de resistência CC
Terça-feira foi dia de brainstorming. Mais de 7 horas de ideias, discussões,
opiniões e conclusões. Poucas mas boas. Ainda assim, os intervenientes foram-se
prostrando com o passar das horas. Um até teve uma baixa de tensão. Outro
decidiu divagar pela arte do desenho, outro começou a pensar em problemas
pessoais práticos. No fim, estávamos todos mas só sobrávamos dois. Eu e o líder
de projecto. Para o que desse e viesse. Para mais 7 horas de reunião se fosse
preciso. Acho o brainstorming estimulante. Gosto de questionar, discutir,
responder. Gosto de aprender. Sempre gostei.
Lembro-me do dia em que a minha mãe disse que já não estudava mais
comigo, que eu era muito chata, porque não parava de lhe pedir para me fazer
perguntas sobre uma matéria que já sabia de cor e salteado. Foi no quinto ano. A
partir daí, as únicas perguntas que minha mãe me voltou a fazer foram as do
Trivial Pursuit, versão familiar.
Eu gostava das aulas de história e dos testes de inglês e de português.
Gostava de ler os livros de filosofia e de escrever apontamentos de psicologia.
Gostava de saber geografia e francês e
algumas coisas de Ciências da Natureza. Gostava de matemática, sempre e quando conseguia
resolver os exercícios. Em geral, gostava de tudo, menos físico-química e
educação visual. Até que cheguei ao curso de Ciências da Comunicação (CC) da
Universidade Nova. Continuei sem gostar de coisas relacionadas com físico-química
e artes visuais mas, além disso, passei a não gostar de tudo, em geral. Eu que
gostava de ir às aulas, deixei de ir a todas. Eu que era uma menina empenhada
em aprender, passei a pensar que não valia a pena. Porque o que nos ensinavam
só servia para passar o exame e respirar de alívio por nunca mais ter de ler aqueles livros e ouvir aquele professor.
Então eu estudava, estudava e estudava, empinava, empinava e
empinava, sem a mais pálida motivação. Foram os anos menos proveitosos destes
26.
E eis que chego às reuniões de brainstorming e sinto que, afinal , ter
passado as férias do Natal a ler o calhamaço vermelho de Comunicação e Ciências
Sociais, serviu para alguma coisa. Ter aguentado 4 horas de Sociologia da
Comunicação todas as semanas e sair da aula com as mãos dormentes de tanto
escrever, serviu para alguma coisa. Textualidades, Teoria
Política, Mutação dos Media, Mediação dos Saberes... Todas essas eternas e dolorosas secas tinham um propósito. Hoje, sou
uma pessoa grata à Universidade Nova pelo excelente treino de muitas horas de aulas, bibliografias intensas e exames maciços sobre as coisas menos interesantes que existem à face da terra. Graças a CC aguento bem ( e com entusiasmo!) 7 horas de brainstorming e consigo ler as trilogias de Ken Follet em inglês, até ao fim, em menos de um mês!
E isso não é tudo! Eu sei que um dia, quando menos espere, ainda vou fazer um brilharete a resolver árvores semânticas.
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