É Natal? Onde?
O meu espírito natalício está abaixo de mínimos. Desde o roubo do iphone,
sucederam-se pequenos desastres que a organização e burocracia espanholas se
encarregaram de tornar devastadores. Primeiro, fiquei sem internet em casa e
demorei 4 dias, uma deslocação à loja, duas chamadas e duas horas ao telefone,
para conseguir que me abrissem uma incidência. Depois, foram mais 4 dias para
que resolvessem o problema que era deles, da central deles e de mais ninguém.
Entretanto, também fiquei privada dos serviços de chamadas e de internet no meu
telemóvel, por um erro aleatório de configuração.
Sem adsl, sem telemóvel e sem nenhum tipo de conexão à internet, o chão da cozinha
começou a expulsar água, manifestando a sua raiva. Cada lavado de loiça
equivale a uma pequena inundação. O que seria uma desculpa excelente para não lavar
a loiça, mas não seria sustentável a longo prazo. Quando ponho a máquina de
lavar é todo um manancial que desliza até a casa de banho onde, das raízes da
retrete também brotam pequenos charcos. Avisei o caseiro que avisou o seguro
que me mandou um canalizador que disse que tinha de vir o carpinteiro. Veio o
carpinteiro e disse que tinha de ver o perito. E assim se passaram duas
semanas. Na próxima segunda virá o perito para que depois venham, outra vez, o
carpinteiro e o canalizador. As perspetivas de buracos na parede da cozinha,
canos de fora, ferramentas ruidosas mais pó e sujidade pelo ar, desencantam
qualquer vontade de montar decorações de Natal. Totalmente imbuída no espírito
da época está a polícia local, para quem Dezembro corresponde a época de angariação,
com bónus por multas e outros incentivos democráticos. Assim, qual reis magos, fecharam-nos
um bar devido a uma irregularidade com o som que já está solucionada. Sim, está
solucionada. Sim, temos os papeis em como está solucionada. Sim, mostrámos os
papeis à polícia. Então? Ah, claro, os papeis não estão aprovados pelo técnico
do Ayuntamiento e os polícias querem comprar a nova wii aos seus filhotes, para
isso precisam da comissão que vão ganhar por nos fecharem o bar na véspera de
um feriado com jogo do Barça para a champions league! Podiam ter vindo na segunda-feira,
ou na terça, não, não, não, vieram quando sabiam que ia doer mais e que não seria
reversível durante os dias seguintes: feriado, sexta-feira de ponte, fim de
semana. Aguardamos então que algum político se digne a ir trabalhar e enviar os
nossos papeis para a revisão do técnico o qual, por sua vez, tem que se dignar
a revê-los e enviá-los de volta. Ou seja, estamos fechados por tempo indefinido
devido a uma irregularidade inexistente.
Para colmatar esta mini-série de infortúnios, fui ver o Benfica ao Camp
Nou, infiltrada nas trincheiras catalãs com o meu cachecol do SLB e completamente
congelada, com estalactites na ponta do nariz. Quando me levantei, senti os ossos
dos joelhos e das pernas a estrebuchar, como um carro que não consegue
arrancar. Desde o intervalo que já não sentia as mãos. E valeu a pena expor assim
a minha vida ao frio e ao vento e aos adeptos “culets”?
Não, não valeu, o Benfica não perdeu mas está fora da Champions League e não
marcou nem um golinho contra a equipa secundária do FCB.
Pergunto-me se a Maria também teve de ultrapassar tantas provas e desgostos
antes de chegar ao estábulo.
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