As penetras
A cultura do “grátis” é como o McDonalds, sabe bem mas
tem vários efeitos adversos.
Em Barcelona é relativamente fácil conseguir entradas
grátis para uma vasto espectro de eventos, bem como para restaurantes, bares e
discotecas.
O que conhece quem conhece que conhece quem conhece
leva-nos a todo o lado.
Foi assim que fomos, eu, a minha irmã e duas amigas
modelos (detalhe que agora pode parecer insignificante mas que se revelará de
suma importância mais adiante), ao jogo de Basquete do Barcelona contra a
Montepaschi Siena. É um clássico a que vou todos os anos. E todos os anos
a minha querida Siena perde, forte e feio. Este ano não foi exceção,
cabazada de mais de 20 pontos.
Porém, à diferença de outros anos, desta vez consegui entradas
VIP. E o que são entradas VIP? São aquelas entradas que estão à beira campo
estendidas, taco a taco com os jogadores, o que torna logo o jogo mais
emocionante, mais que não seja porque a qualquer momento podemos levar com uma
bola na tromba. Ressalvo que não foi o caso. Até porque estávamos na última
fila VIP, pelo que tínhamos a vantagem de 3 filas de proteção contra bolas
voadoras e a desvantagem de ver muito pouco, quase nada, exceto as cabeças dos
outros VIPS que chegaram antes e conseguiram lugares melhores que nós. Não se
pode ter tudo não é verdade?
Ainda assim, o golpe que levámos foi muito mais
profundo que o ressalto de uma bola de basquete na ponta do nariz. Porque doeu na
alma!
Tudo começou no intervalo, quando umas das minhas
amigas salientou que, se tínhamos as pulseiras VIP, de certeza teríamos acesso
a alguma sala privada com comes e bebes. Perguntar não ofende e a primeira
resposta foi que fossemos ao Pans&Company, como toda a gente. Aaaaah! Não, o
vexame não foi esse. Foi quando se lembraram que afinal não tínhamos que ir ao
Pans&Company como toda a gente, afinal podíamos entrar na sala vip por uma porta secreta que se abriu a nossos
pés onde parecia só haver parede. Os senhores mandaram-nos entrar, a senhora
que guardava a porta deu-nos passo e nós lá fomos, divinas de la muerte, buscar
uma garrafa de água. Atravessando a sala para chegar à mesa das bebidas notei
que com uma media de altura de 1m80, entre outros atributos, não passávamos
propriamente desapercebidas. Exceto pela minha irmã, que a qualquer momento se
podia ter misturado com o resto das pessoas que nos olhavam com curiosidade, evitando
assim um grandioso embaraço. Também notei que não estava ali nenhuma das
cabeças VIP que se sentaram à nossa frente na primeira parte do jogo. Estranho.
Mas a explicação não tardou, veio de repente, a correr do outro lado da sala e
intersectou a minha tentativa de pedir a garrafa de água ao lado do Cesc
Fabregas. Disse-nos mais ou menos assim “Vocês não podem estar aqui, as vossas
pulseiras só dão acesso a esta zona depois do jogo, façam o favor de voltar
para o outro lado”. “Mas foram os seus colegas que nos disseram para entrar
aqui… (e elas são modelos e eu engano!)” “Não podem estar aqui, saiam por favor,
já”. Simpático e educado que só ele! Como se fossemos umas ladras, umas
criminosas, umas corruptas , escoltou-nos até à saída com todas as miradas
centradas em nós. A nossa auto-estima foi devastada, a nossa vergonha encheu a
sala, os nossos esguios metros caíram do salto alto. Foi, provavelmente, o
momento mais mortificador das nossas vidas até à data. Ficámos indignadas!
A minha irmã nem se apercebeu do escândalo, estava a
cuscar os canapés.
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