Caminhos...
Na semana passada
superei-me a mim mesma. Espanto-me com esta minha habilidade para ainda me
perder no caminho a casa, depois de quatro anos nesta cidade. Fez-me lembrar uma
série de pontapés na porta da minha casa em Siena, um dia em que nao a conseguia
abrir. Basicamente porque não era a minha porta. A minha porta já tinha passado
há umas quantas portas atrás. É que o meu sentido de orientação é tão bom como
o de um cavalo marinho cego. A maioria de vós já deve ter tido a oportunidade
de observar cavalos marinhos num aquário. Não têm a mais pálida ideia do que
estão a fazer! Viram à direita, viram à esquerda, voltam a virar à direita e à
esquerda, e à direita outra vez. Sempre em síntesis de movimentos curtos e
secos, como se estivessem a sofrer pequenos espasmos nervosos. Ou a dançar
hip-hop. Agora imaginem um cavalo marinho cego. Esse sou eu!
Após duas saídas
do metro frustradas, dei por mim no meio de uma rotunda entre dois bairros de
escassa boa fama, chamados Glóries e Encants apesar de não terem réstia de
glória nem nenhum tipo de encanto. E eu lá estava, olhando à esquerda e à
direita (momento cavalo marinho total), com dúvidas agudas sobre o passo
seguinte. Salvaram-me as eternas torres da Sagrada Família, que se viam desde
longe e guiaram esta alma perdida.
Tudo isto derivou de ter alterado a minha rota
de regresso a casa para ir buscar o meu visa. Não, não é o cartão do banco, é o dos
Estados Unidos. Onde estou agora oficialmente autorizada a viver.
Parto para o meu
american dream daqui a duas semanas.
Não consigo
imaginar quantas vezes me vou perder pelas ruas de NY (confio que muitas) e,
pensando nisso, apercebo-me de como vou ter saudades das torres da Sagrada
Família.
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