MoMA
Esta semana, as cortinas
abriram-se para ver nevar pela primeira vez, depois do Verão. Era uma neve
miudinha, que já não deixava rastro. Quem abriu as cortinas mais cedo, ainda
viu o asfalto da côr do algodão. Eu não. Menos mal, porque para mim a neve é uma deceção. Não acho
piada nenhuma a termómetros abaixo de zero, narizes a pingar e nós no cabelo, cortesia do
gorro e do cachecol.
A neve é muito bonita sim
senhor, para quem não tem de sair de casa.
Enfim, não se pode
esperar que alguém meio portuguesa (que vivia no Algarve) e meio brasileira,
morra de paixão pela neve, pelo ski ou pela patinagem no gelo. É como esperar
que os camelos queiram aprender a nadar ou que os ursos polares fiquem morenos.
Tudo isto para dizer que
no dia dos primeiros flocos de neve em NY, eu estava mesmo entusiasmada era com
a composição em vermelho azul e amarelo do Piet Mondrian, em exposição no MOMA.
Queria ver a “fonte” do
Duchamp, mas o urinol não estava lá. Esperava mais côr nos quadros do Matisse,
não sabia que as Demoiselles d’Avignon eram tão grandes, principalmente em comparação
com a noite do Van Gogh. E nunca me propus pensar quanto espaço ocuparia um
Monet, mas agora que sei que abarca uma sala inteira, de uma ponta à outra,
posso garantir que a única coisa verídica sobre a arte do sécuo XX no meu livro
de históra do décimo segundo ano, era a composição em vermelho azul e amarelo do Piet Mondrian.
Todas as outras imagens foram um pequeno ultraje.
Só o abstracionismo
geométrico é que não desiludiu. Estavalá tal e qual, com as linhas rectas, as cores
primárias e a vaca do Theo van Doesburg. Que uma pessoa acredita mais
rapidamente que é a fada dos dentes que
uma vaca. (O mesmo sucedia em relação à imagem que o livro de história do
décimo segundo ano mostrava da dita vaca).
Mas foi mesmo a
composição em vermelho azul e amarelo do Piet Mondrian que mais me emocionou.
Emoção de verdade, com memórias, estórias, pessoas e um twist no guião da minha
vida. Corria o ano de 2004, algures
antes ou depois da fatídica derrota de Portugal contra a Grécia no Euro. O
exame nacional de hisória dava a escolher a pergunta de desenvolvimento. O mapa
político da segunda guerra mundial ou o quadro do Mndrian. Eu nunca fui grande
espiga com mapas. Pelo que se seguiram 4 longas páginas a debitar
interpretações e análises técnicas sobre meia dúzia de linhas em 3 cores, num
fundo branco. Foi graças a essa pergunta, ou a essa resposta, que entrei na
Universidade.
Não me lembro de nada do
que escrevi. Lembro-me do meu melhor amigo, depois do exame, me ter perguntado
com era possível escrever 4 páginas sobre isto:
Agora, olhando o quadro numa de tête à tête, não consigo evitar o romper dessa questão com
quase 10 anos de idade.
Como raio é que eu fiz
aquilo?
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