Para não pensar...
O penúltimo dia
do ano é um bom dia para pensar. Porque o último dia do ano é uma azáfama
imensa, um corre-corre em contagem descresente, um desenfreado engolir de uvas
passas para não perder os desejos da
meia noite.
O penúltimo dia
do ano é, pois, o dia para pensar por excelência. Pensar no que fizemos, no que
não fizemos, no que deixámos por fazer.
Pensar no que acabámos,pensar no que começámos. Pensar no que ficou a meias.
Pensar nas
pessoas que conhecemos, nas que já conhecíamos mas de alguma forma perdemos e, em como
cada uma delas nos trouxe ou nos deixou alguma coisa. Uma experiência, um lugar, uma
estória, uma ideia, um post it...Ou então não! Porque também há pessoas planas
e vazias que passam por nós sem mais nem menos. Nessas, não vale a pena pensar.
Pensar nos
momentos supremos, únicos e
irrepetíveis, em que o mundo parou no ponto da perfeição. Contá-los a conta
gotas, com a esperança de que tenham sido mais que os momentos tristes, em que o
mundo encravou e parecia não voltar a andar para a frente.
Pensar nos dias
em que, aparentemente, não aconteceu nada e perceber que esses são os dias em que
aconteceu tudo. Que a rotina é um motor
poderoso.
Pensar nas
escolhas que fizemos, sem julgar e sem querer voltar atrás para corrigir. Os
acertos fazem-se sempre depois.
Pensar no bom e
no mau que vimos de nós mesmos, sem medo.
Para pensar se nos queremos continuar, mudar, fazer dieta ou deixar de
fumar.
Pensar quantos sonhos podemos riscar, daquela
lista secreta que escrevemos. Pensar quantos sonhos mais temos de sonhar, para dar
sentido ao ano novo. Pensar que ele vai ser diferente ou, no mínimo, tão bom como o ano passado.
Pensar nas
expectativas ansiosas, nas dúvidas mais tenebrosas, nas surpresas
surpreendentemente saborosas. Ano novo
não é ano novo sem esse friozinho na barriga e aquele brilhozinho nos olhos.
E, mesmo assim, não
pensar demasiado. Porque o que importa mesmo é viver.
Viver, todos os
dias de todos os anos, sem parar. Ou não haverá nada em que pensar.
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