Um Não Natal
Sempre tive
Natais felizes. De pouca desarrumação, de pouca gente. Onde a tradição do
bacalhau e do perú se misturaram, para grande contento meu, com a lasanha e o
bolo de chocolate recheado de laranja.
Natais de mais ou
menos frio, de mais sol ou menos chuva, de mais ou menos presentes, de mais ou
menos folclore na árvore, dependendo de quem a decorasse. Sempre em Lisboa, sempre em família.
Atigamente, o meu pai comprava pinheiros naturais, até ao ano em que
descobrimos os de plástico, made in china, e nunca mais quisemos outra coisa.
São imensamente mais práticos, é só tirar e pôr na caixa, sujam muito menos e são mais ecológicos. Se
bem que eu acho que o motivo de força maior é mesmo porque o meu pai já não tem
a tenacidade para andar, para cima e para baixo, com um pinheiro natural às costas.
Quando era pequena, dava voltas e voltas à
árvore numa excitação assanhada, tentando desvelar o que escodiam os embrulhos.
No dia 25 acordava às 7 da manhã, ou antes, e os meus pequenos pés tinham
somente um destino.
Porque quando
somos pequenos a vida é assim, com objetivos bem definidos e a curto prazo.
Quando somos pequenos a felicidade é um carrossel, às vezes para porque caímos
da bicicleta com rodinhas ou porque nos puseram de castigo (sempre
injustamente), mas depois volta logo a girar outra vez.
Porque quando
somos pequenos o Natal é a nossa lotaria e a felicidade o nosso dia-a-dia. E
não nos passa pela cabeça que esta regra universal não se aplique a toda a gente,
em todo o lado.
Mesmo quando
crescemos e nos apercebemos de que nehnuma regra é universal, não pensamos que
o Natal possa ser outra coisa além daquela que sempre vivemos. Eu pelo menos
não pensava.
Até que este
Natal aconteceu um daqueles azares, uma daquelas tristezas, uma daquelas coisas
que nos fazem perguntar porquê eu? Porquê comigo? Eu até não sou má pessoa.
Este Natal foi
interrompido por um internamento no hospital, desde a noite da consoada até ao
dia 27. Este Natal foi o primeiro Natal
não feliz que vivemos. Não foi Natal.
Foi a triste
realização de que há muita gente que nunca teve um Natal feliz. Muita gente que
teve um Natal ainda pior que o nosso. E que, afinal, o Natal não deixa de ser
um dia normal, em que podem acontecer tantas coisas más como noutro dia
qualquer.
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