Le ménage
No outro dia acordei em sobressalto. Uma mensagem do seguro
informava-me de que havia sido declarado um sinistro! Depois de um breve momento
de pânico e uma leve hesitação, ponderando se um sinistro espanhol seria o
mesmo que um português, cheguei à conclusão de que eu estava bem. Na cama. Com sono, vá, alguma
ressaca também, porque era Domingo. E do que é que eu me fui lembrar? Que eu não tenho um seguro. Culpei o spam.
Afinal era culpa dos caseiros, que tinham ativado o seu
seguro para enviar um senhor que resolvesses todos os meus problemas, ou quase: o ar condicionado do quarto, cada vez que o
acendo faz um barulho que parece a matança do porco; um cheiro inóspito e agreste, para
não dizer palavrões, que sobe com altivez pelos canos da cozinha; e a máquina
de lavar pratos, que não funcionava nem a pontapé. Se bem que eu já suspeitava
que o problema era mesmo esse - estar a
tentar que ela funcionasse ao pontapé. Desta vez acertei!
Esta manhã lá veio o senhor do seguro dos sinistros e: o ar
condicionado continua a grunhir, porque
é preciso limpar por dentro e isso ele não faz; os canos continuam com mau
hálito, e isso ele também não resolve; mas
a máquina de lavar pratos funciona lindamente. Era uma questão de ligá-la. De
pressionar o botão fixamente até ela ficar “on”. Em minha defesa, o botão não dizia “on”. Dizia 50. (Pratos, graus, litros de água? Sabe
Deus!). O abstracionismo electrodoméstico
é uma coisa que me transcende. Já com o micro-ondas foi uma guerra, era ele a
não arrancar e a mandar-me ler as instruções (sim, o ecrã dizia “lea las
instrucciones”) e eu a dizer que li o Habermas e a Hannah Arendt e o Foucault e
o Harry Potter em inglês! Portanto, um
micro-ondas de meia tigela não me ia deitar abaixo! É uma guerra que ainda não venci.
Porque ele não me deixa escolher os
tempos. Não! Ele é que sabe. Eu escolho o programa e o peso do que quero cozinhar
mas ele é que decide, tudo a seu tempo. E cá andamos, às turras todos os dias,
porque eu não preciso de 5 minutos e 20 segundos para aquecer os restos do
jantar de ontem.
E o que dizer do sol e do pôr do sol da máquina de secar? Ou da nuvem de trovoada na máquina de lavar a
roupa?
Não se enganem, há 9 anos que vivo sozinha, não sou nenhuma
novata nisto. Sei os meus limites, por isso evito usar o forno.
Só nunca tinha tido de escolher estações do
ano nem fases do dia para lavar e secar a roupa.
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