A deslenda de St. Jordi
Foi dia dos namorados outra vez. O St. Jordi encheu as ruas
de rosas e esvaziou as prateleiras de livros. É sempre um dia especial, onde a
fantasia da princesa e do dragão se mistura com a cultura e a tradição catalanas. Este espírito contagía miúdos e graúdos, catalães,
espanhóis e estrangeiros. E é aqui que faço a minha reflexão.
Vi dois casais asiáticos a passear pela praia, contentes e
apaixonados. Iam abraçados e cada um dos rapazes carregava uma rosa de St.
Jordi na mão. As rosas de St. Jordi
distinguem-se porque têm sempre algum detalhe da bandeira catalã.
Parece-me pouco provável que as namoradas lhes tenham
comprado a rosa. Parece-me bem mais que, no decorrer do seu passeio turístico,
repararam que havia bancas de rosas por todo o lado e pediram uma. Como quem
pede um pão com tomate ou uma sangria. Porque é típico, porque toda a gente
tem, porque aquelas riscas amarelas e vermelhas a enfeitar o invólucro são
mesmo giras!
O meu argumento é fácil: não só não sabem as cores da
bandeira catalã, como desconhecem por completo a lenda de St. Jordi. Querem a
rosa, claro que querem, porque vêm todas as mulheres com uma. Porém atenção, não querem ter de andar com a rosa, que isso é
incómodo!
E têm toda a razão!
O que me faz pensar numa pequeno reparo na lenda de St.
Jordi: O dragão aterrorizava a aldeia,
os habitantes tinham que lhe mandar um animal e uma donzela, um dia o infortúnio caiu sobre a filha do rei e ela lá foi, mais o cordeiro. Até aqui
tudo bem. Encontrou São Jorge no caminho, "Olá ‘tás bom, sim eu também, vou ali
ser devorada pelo dragão e já volto", "Eh pa isso parece mesmo chato espera aí que eu já te
salvo", enfim a típica conversa de circunstância. Até aqui tudo correto. Chega
São Jorge para lutar com o dragão, mata-o com a sua espada, coisa que hoje em
dia certamente seria contestada pelo Green Peace mas não faz mal, ainda não é o
reparo que quero introduzir. Começa o dragão a jorrar sangue e, diz a lenda, o
sangue transforma-se numa bela rosa que São Jorge oferece à princesa. Alto e
pára o baile! Quem é que acredita nisso? Princesa que é princesa, ou basta ser
mulher na verdade, não aceita uma rosa toda suja de sangue de dragão. Não é minimamente plausível. Não aceita e
pronto! Portanto, o verdadeiro desenlace deve ter sido mais ou menos nestes
termos “Oh Jorge eh pá que querido, obrigado, é um grande detalhe sim senhor,
mas se não te importas leva tu a rosa que eu não quero sujar as
mãos e como tu já estás todo sujo tanto te faz não é...”
Mulheres.
E eu sou uma delas!
Feliz St. Jordi!
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