A menina que roubava quiches
Depois do sucesso de “A menina que roubava livros”, “A
menina que roubava quiches” parece-me um título com potencial. Talvez não chegue para
escrever um livro, mas para este post serve lindamente.
Desde que mudei de casa, tenho-me encontrado com coisas que
gosto mais, como a casa em si, e coisas que gosto menos, como a falta das
tradicionais lojas de bairro. Agora que vivo numa zona “bem” e no centro da
cidade, ao pôr o pézinho na rua disponho de uma vasta panóplia de restaurantes,
bares e lojas fashion. Mas não tenho uma loja para comprar panelas, nem um
sapateiro,nem uma costureira, nem uma bazar dos chineses, ou uma frutaria, um
talho, uma loja de congelados... népias! É um estar perto de tudo, estando
longe de tudo o que é prático. Exceto por uma coisa: a padaria. Tenho uma
padaria debaixo de casa aberta 24 horas de Segunda a Domingo. Até agora é, de
longe, a minha loja preferido e onde já sou assídua. Noite sim, noite sim,
quando chego a casa tardíssimo depois de trabalhar, enfardo um croissante de chocolate. De dia,
quando não tenho tempo de comer o pequeno-almoço em casa, compro uma sandes
para levar. Se estou mais melancólica, a escolha recai sobre um brownie ou um
pastel de Belém, que também os têm! Foi o que aconteceu no Sábado à tarde.
Ao entrar na padaria, reparei numa jovem que passava pela
porta. Passou, olhou a apetitosa montra e voltou atrás. Claro, pensei, com uma montra
tão cheirosa e deliciosa, é difícil seguir em frente. Entrámos ambas na
padaria, ela um pouco depois de mim. Como é habitual, as senhoras estavam na
cozinha, raramente há alguém ao balcão. A jovem, estranhamente nervosa, olhou
lá para dentro para ver se vinha alguém por ali. Quando vi que em vez de chamar
a senhora, esgueirou a mão por cima do vidro do balcão para arrebatar uma
quiche, percebi que não foi o cheiro nem o surtido de fazer água na boca que a
motiveram a voltar atrás para entrar na padaria. Foi só mesmo a ausência de
empregados. Naquele momento tive que tomar uma decisão rápida: ser cúmplice de
um roubo, ou delatar a infratora. Quase instintivamente comecei a gritar: “Hola”!Hola!”
para queaparecesse alguém. A ladra
fitou-me raivosa. Mesmo assim, as senhoras não se apressaram a aparecer e ela
aproximou-se mais da quiche. Eu gritei mais alto. Ela desistiu e foi-se embora
a rogar-me pragas, não sem antes lançar um irónico “Gracias eh!”. De nada filha, vá trabalhar como toda a gente,
ora essa! Assim já poderá pagar pela sua comida, que a quiche custa menos de
2€, portanto não seja rafeira.
Não tenho mesmo pena nenhuma. Primeiro, porque desconfio que
ela também não estava assim com tanta
vontade de comer uma quiche, simplesmente era o que estava mais a ângulo para
surrupiar. Segundo, porque eu entrei primeiro na padaria portanto, além de estar a roubar,
estava-me a passar à frente, a grande mal educada!
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