Correr no parque
Esta semana tive uma ótima ideia. Em vez de ir correr pela
minha rua, na faixa das bicicletas e em constante sobressalto entre carros,
peões e esplanadas, fui correr para um parque. Para o Parque da Ciutadella,
onde tenho as aulas de box e que parece ter-se convertido numa meca declarada
dos grupos de bootcamp e jogging. Toda a gente vai para lá correr ao fim do dia.
Respira-se ar puro, não há cá carros nem semáforos e os caminhos são de terra,
o que é menos agressivo para as pernas.
Há só um pequeno detalhe que eu não tive em conta aquando da
minha ótima ideia: o parque está apinhado de cachorros. Eu tenho pânico de
cães. Não sei quando nem porquê, mas é um medo que incumbei durante muitos anos
e agora não consigo soltar.
Ora imaginem o horror, de começar a correr e ver cães a
brincar, a saltar pelos ares e a correr ferozmente, saboreando a liberdade da
trela. Um pesadelo!
Mudava de direção, subia, descia, virava à esquerda,
abrandava. Em uma ocasião cheguei mesmo a voltar apara trás, mas não havia
maneira... eles estavam por todas as partes. Qual filme de terror com zombies!
Saltavam de
detrás dos arbustos, atravessavam-se no caminho sem olhar, corriam de frente
para mim, determinados e selvagens como leões, e eu, uma desengonçada gazela assustada. E não me venham cá com coisas, ah e tal não
fazem mal, porque o cão tem boca? Tem.
Tem dentes? Tem. Então o cão morde!
Os factos são os factos e o facto de estar escuro e cheirar
a dejeto canino não era animador, pois o medo de ser atacada por um pequeno
lobo misturava-se com o medo de pisar o seu cócó, a cada passo.
Outro problema ao qual não dei a devida consideração prévia
foi a inquietante lista de outras coisas para as quais os parques escuros também
são idónios, além do jogging: encontros furtivos, consumo de substâncias
ilegais, raptos, violações, assassinatos, esconder cadáveres e tudo mais o que
a minha cativante imaginação de escritora se pôs a maquinar, enquanto procurava
caminhos iluminados.
No escuro, qualquer
pessoa é um potencial serial killer.
Eram sete da tarde, o parque da Ciutadella está no meio da
cidade, mas entre os possíveis ataques animais, as tenebrosas sombras humanas e
os cócós, não consegui correr descansada.
Voltarei ao reboliço do asfalto, com os carros, as biciletas,
os semáforos e as esplanadas, que aí pelo menos há muita luz e não corro risco
de vida!
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