Martírios financeiros
Andava eu refastelada de alegria porque a Hacienda (vulgo finanças em português) ia-me devolver dinheiro. E
devolveu, devolveu sim senhores, mas não o montante devido. Enganaram-se, pensei. Ou então vão transferi-lo em duas vezes. Liguei
à gestora, não, não se costumam enganar e pagam sempre de uma só vez. Oh
diabos!
Fui então esclarecer a situação ao escritório da Hacienda, onde havia
20 pessoas à espera só para perguntar no balcão de informações a que andar se
tinham de deslocar para solucionar os seus respetivos problemas. Disseram-me
que aquilo ia rápido, mas eu achei que sozinha chegava lá antes. Decifrei a enigmática
sinalização do edifício e aventurei-me pelos balcões afora. À segunda tentativa
acertei. Infelizmente, tudo o que a senhora me pode esclarecer, depois de uma
intensa batalha com o seu computador, foi que me tinham descontado uma dívida
da segurança social. Perdóóón??? Como é que é? Mas qual dívida? Querem ver que
sou uma fora da lei e não sei!
Ah e tal, tem que ir à tesouraria geral perguntar.
Fui, já carregando alguma tensão. Outra vez passar o sistema de
segurança, com raio x e detector de metais, como nos aeroportos. Faz sentido,
eu mesma já estava com alguma vontade de meter ali uma bombinha. Após alguns
ziguezagues lá me sentei com um senhor que me disse que o dinheiro que me
tinham tirado, correspondia ao pago da alta de autónomos (trabalhadores por conta própria) de Janeiro de 2014 e
que como o montante não tinha sido abonado, o valor original havia sido
incrementado em 300€, como penalização. Hahahahahahah! Piadinhas!!!
Mandei rodar a baiana! Se não paguei a alta foi porque não me cobraram.
É um processo automático, atrelado à conta bancária. Se não deduziram o dinheiro
nem me passaram nenhum recibo ou aviso de pago pendente não é culpa minha e, portanto,
não tenho de pagar multa nenhuma. Faça-me o favor de devolver o meu dinheiro!
Ele estava de acordo, deu-me toda a razão! Verdade seja dita era
difícil e até mesmo arriscado contrariar-me naquele momento de fúria. Ainda assim, teve a audácia de me dizer que
tinha de ir corrigir a alta a um escritório da segurança social da minha área. A
sério, estive hesitante entre levantar-me serenamente ou atirar-lhe as mãos ao
pescoço.
Após passar, então, o terceiro sistema de segurança do dia (este fazia mais sentido que os dois anteriores porque, a estas alturas, eu já estava mesmo com cara de talibã ressabiada), deparei-me
com uma senhora de recepção que não percebeu nada do meu drama e meio a contragosto
me deu uma senha de espera. Por sorte, atendeu-me outra senhora bem mais qualificada
que rapidamente concluiu que não me tinham dado oportunidade de pagar a alta
pelo que o erro era deles, não meu. Portanto
têm mesmo que me devolver o dinheiro deduzido, erroneamente, do importe de devolução da declaração da
renda. Isto agora parece mais uma sentença penal que um post do blog.
Adiante, passou-me a senhora qualificada com o seu chefe que analisou o
caso, insultou o idiota que me deu de alta e se esqueceu de fazer o cobro, e
disse que tínhamos ali um problema: como já me tinham tirado o dinheiro não
constava no sistema nenhuma dívida pendente, pelo que era impossível anulá-la.
A única solução era fazer uma petição de devolução e recrear o processo de
alta, coisa que ia demorar.
A petição está feita, agora tenho que lá voltar
para pedir um recibo, ir ao banco, pagar então a alta que não tinha sido paga,
enviar um comprovante à segurança social e esperar que, algum dia, durante o
resto da minha vida, me devolvam o dinheiro da penalização.
Tá certo.
Depois admiram-se que as pessoas não queiram pagar impostos.
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