Ironias da vida
Tenho, por normal geral, não acreditar em políticos e não
acreditar em política. Acho que as redes de interesses e lobbies estão tecidas
como uma malha de ferro impenetrável e eletrificadas com alta voltagem, de tal
maneira que nem as melhores intenções as podem romper.
Ainda para mais estando em Espanha, que é onde vivo mas não
é o meu país nem voto aqui, passava-me um pouco ao lado se o Alcalde de
Barcelona sabia falar catalão ou não.
Ainda assim, tenho uma inclinação para a esquerda, para o
proletariado, para a luta de classes, para a igualdade de benefícios e oportunidades,
independentemente da classe social. É o conceito que me parece mais próximo da
uma sociedade justa e de um Estado de bem-estar. Mas este blog está longe de ser um fórum político
e respeito a máxima de que opiniões são como os rabinhos, cada um tem o seu.
Ora aconteceu que no passado mês de Junho uma senhora
chamada Ada Colau foi eleita nova alcadesa de Barcelona, pela plataforma
Barcelona en Comú, que agregou todos os partidos de esquerda catalães.
Eu conhecia esta senhor a de vê-la na televisão de megafone na
mão, a lutar contra os desalojamentos por essa Espanha afora. Foi assim, como
líder e fundadora da plataforma de afetados pela hipoteca, que esta ela ganhou
a minha simpatia. Depois, descobri que era uma ativista mesmo muito ativa, que
desde os anos 90 andava metida em protestos e manifestações contra a guerra do Golfo,
contra a guerra do Iraque, contra decisões pouco democráticas do G-8.
Sim senhora, isto é que é uma mulher a sério!
Portanto, quando vi que foi eleita fiquei contente, esperançosa
até, pensei que finalmente o povo ia ter uma voz forte em Barcelona e os
esquemas e corrupções iam ser travados, na medida e velocidade possíveis.
A última coisa que me passou pela cabeça foi que esta
senhora pudesse tomar uma decisão que me afetasse a mim, direta e
negativamente. Não obstante, uma das
primeiras leis que lançou foi o “congelamento” da concessão de licenças hoteleiras
em Barcelona durante um ano, por considerar que estava a haver um crescimento
desordenado e prejudicial e que é urgente planificar o urbanismo turístico. Soa
tudo muito bem, exceto que eu ia tinha uma oferta de trabalho para começar, em
Setembro, a organizar a comunicação e eventos de um novo hotel de 5 estrelas em
Barcelona, e agora já não tenho. Ou pelo menos não para Setembro. O edifício
está comprado mas, por enquanto, até que a fofa da Ada diga o contrário (já
disse que estava disposta a analisar caso por caso), não há licença para hotel
e sem hotel não há comunicação e eventos para ninguém.
Colocando de lado a minha situação pessoal, parece-me
bastante extremo e ridículo proibir a abertura de hotéis, pensões, hostals
(...), bem como o aluguer de casas para férias durante um ano. O número de
turistas em Barcelona aumenta cada ano, os hotéis estão todos lotados na
temporada alta e é apenas lógico que o espectro de opções hoteleiras também
tenha que aumentar. Além do que, estamos a falar de investimentos imóveis
importantes para a cidade, não da construção de uma plataforma petrolífera na
praia da Barceloneta.
Mas pronto, foi a primeira e última vez que me deixei iludir
por um político.
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