Capri...apenas...
Há muito tempo que queria ir a Capri. Era um dos meus
destinos alvo para este ano. Queria ir a Capri porque os meus amigos italianos
me tinham falado maravilhas, queria ir a Capri porque tem um non so cosa
(adaptação contextualizada de um je ne sais quoi), queria ir a Capri pelo mar
azul e pelo aura de glamour dolce vita. Tanto queria, tanto queria, que me meti
num barco em Positano (um iate vá, não sejamos modestos que a coisa foi “chique
a valer”, como dizia o outro) e fui para a Capri um dia.
Sem dúvida um dos
melhores dias de férias que já tive, com o cabelo ao vento, nas águas tão “blu”como
transparentes, à descoberta de grutas esculpidas com primor pela natureza e
anos de erosão que foram formando figuras sem o saber. De mergulho em mergulho
à volta da ilha, desde a grotta bianca à grotta azurrra, com paragem pela grotta
verde. As grutas devem o nome à cor das suas águas. A mais conhecida e
impressionante, claramente a minha preferida,
foi a grotta azurra. Não só pela gruta em si, mas pelo pequeno circo à
sua volta. A fila desordenada de barcos apinhados que esperam que os barcos da
gruta venham buscar os seus passageiros, entrecruza-se com a filar de pessoas
que esperam em terra, pelos mesmos barcos. É um estar à deriva caótico, não estivéssemos
nós no sul da Itália, e pitoresco, com os remadores armados em gondoleiros, a
fazer de Pavarotti e guia turístico ao mesmo tempo. Entre gritos, discussões
porque um remador tenta passar à frente do outro, e cantigas que só eles sabem,
mandam-nos deitar no pequeno barco para poder entrar na gruta, onde eles mesmos
executam um pequeno movimento de contorcionista para poder passar. Lá dentro,
outros tantos barcos dão a volta a uma gruta minúscula, mas surpreendentemente
azul, um azul pintado pelo reflexo da luz do sol, indiferente tanto ao eco das vozes dos
turistas como ao flash das suas câmeras e telemóveis. Mergulhámos e nadámos no azul, no meio dos
barcos, das vozes, dos flashes e da escuridão que os raios de sol não conseguem
penetrar. A grotta azurra não é romântica como as gôndolas de Veneza, mas é uma
experiência única e muito divertida. Além disso, é bem mais barata do que as gôndolas
(100€). A grotta azurra custa 13€ sem contar com a gorjeta que, ou deixamos, ou
levamos com um remo da cabeça.
Outra coisa que me deu arrepios dos bons foi i Faraglioni,
os rochedos épicos e monumento oficial da ilha de Capri. Poderão dizer que nós
temos a praia da rocha e a boca do inferno e o cabo da roca. E temos, e são
espetaculares, mas os faraglioni impõem-se sobre as nossas cabeças quando
atravessamos o arco dos amantes e são tão grandes que os seus contornos se
adivinham ao longe, desde a costa de Positano. E depois, convenhamos, a Dolce
Gabanna e o James Bond não fazem anúncios e filmes na Praia da Rocha...
A paragem para o almoço foi uma aterragem no paraíso. O
Restaurante, il Riccio, em Anacarpi, a mais alta das 4 zonas em que está
dividida a ilha, mesmo em cima da grotta azurra, foi recomendação de outro amigo
e um bingo total. À nossa frente nada mais que o mar imenso, os pratos dignos
da estrela Michelin que os honra, bom serviço e para colmatar o grande final,
não há um cardápio de sobremesas. Há um quarto inteiro “The temptation room” cheio
de doces, frutas, chocolates e tudo o que possam imaginar!!! Ia tendo uma taquicardia
diabética quando vi aquilo. A minha alma estava tão parva como babosa. Imaginem
aqueles pequenos-almoços buffet dos hotéis, pois era isso, versão
sobremesas/gulodices e afins/seja gordo e feliz! Com um toque especial de
restaurante Michelin. Aprovado com 20!
Se a perfeição existisse, poderia perfeitamente chamar-se Capri.
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