As grutas de Kapsia
Gosto de grutas. Sei que são frias e húmidas, sei que têm
aranhas colossais e outros insetos pouco apetecíveis. Sei que são escuras e claustrofóbicas,
mas o que é que eu posso fazer, gosto de grutas. Há algo de viajar a uma
dimensão diferente quando entramos numa gruta. Um burburinho de excitação e uma
curiosidade por algo secreto e centenário.
Uma estalactite cresce 1 cm cada 100 anos. Quando entramos
numa gruta e vemos metros de estalactites a pender do teto e outros tantos de estalagmites
a romper o chão, sabemos imediatamente que estamos a percorrer um caminho de
milhares de anos.
Já visitei várias grutas, porque sempre que há grutas na
jogada lá vou eu. Umas mais profundas, umas
mais místicas, outras mais bonitas, outras mais secas, mas nenhuma tão grande como a gruta de Kapsia,
onde uma guia privada nos contou toda a história por detrás daquelas rochas. A
gruta de Kapsia chegou ao mundo antes de Cristo, há mais de 3.000 anos, e tal como
indicam os restos de cerâmica que podemos ver, foi usada como local para
sacrifícios a um Deus meio cabra meio homem, por estar numa zona de campo e
agricultura. Não há pinturas nas paredes nem nenhum outro indício de que a
gruta fosse usada como refúgio ou moradia, apenas os restos de cerâmica, na
primeira parte da gruta denominada a parte das maravilhas. Nesta primeira parte
observamos várias estalactites cobertas de cálcio, que se forma com a água que escorre
pela pedra e lhes dá um tom brilhante mágico, como se fossem pedras preciosas
ou uma sobremesa com cobertura de açúcar. Não sei se haverá muita gente a
pensar em comida no meio de um buraco subterrâneo, mas eu não pude evitar.
A segunda parte da gruta também tem estalactites cintilantes,
qual disco ball na pista de dança e seria igualmente maravilhosa, não fosse
terem ali encontrado vários esqueletos, pelo que foi batizada como a parte dos
ossos. Ora aqui estão os ossos de uma perna, ali está um crânio, conseguem ver?
E aqui apenas uma parte do crânio de uma criança, como se pode determinar pelas
pequenas dimensões, dizia a guia toda entusiasmada enquanto apontava com a sua
lanterna para iluminar os ossos. Ora e como é que aqueles ossos foram ali parar
perguntam vocês? Então, diz a guia que houve uma cheia e, efetivamente, podem
ver-se as marcas da água cravadas nas paredes. Supõe-se que a cheia tenha
bloqueado a entrada da gruta, que já de si não era a coisa mais acessível do
mundo, e as pessoas tenham ficado ali encurraladas. Outra teoria é que mesmo se
pudessem ter saído da gruta, eventualmente haveria inimigos à espera para emboscá-los.
Diz que Esparta e Kapsia andavam em constantes guerras. Quer-se dizer, ou
ficavam na gruta inundada sem provisões e morriam, ou saíam e tinham um comité
de boas vindas à espera para matá-los.
Não eram tempos fáceis...
Comentários