Reler é reviver
Resolvi juntar todos os posts sobre o meu Erasmus, para ver se saía
dali alguma coisa com potencial editorial. Copiei todos os textos para um doc Word,
imprimi e agora estou a ler e a rever um por um, aplicando as correções que me
parecem pertinentes.
È engraçado ver certas manias literárias que tinha na altura,
expressões que usava constantemente, palavras que aprendi na universidade e,
entretanto, se perderam no dicionário da memória a longo prazo.
Mas o mais engraçado é reviver tudo outra vez. Relembrar as pessoas, as
aventuras, as situações mais caricatas, os detalhes mais deliciosos as
manifestações mais hilariantes.
A primeira vez que joguei ao Parchis, o brasileiro que se chamava
Douglas e a Ana o chamava de Taurus. O dia em que um padre entrou pela casa
adentro e benzeu os hotéis do monopólio que estavam a ser usados como fichas de
poker. A vez em que acheguei a casa e o
Menchaca estava de balde e esfregona em punho, porque a máquina de lavar tinha
inundado a casa de banho. A discussão acérrima, em italiano, com o imigrante
ilegal que tirava fotos na Fontana de Trevi. A vez em que roubámos um avental
de cozinha, com os queijos mais famosos de Itália. Os 10 golos que o Juanma levou, num torneio de
futebol. O empregado de mesa de um restaurante em Roma que entornou,
acidentalmente, todo o molho gorduroso de um prato em cima da minha melhor
amiga.
Quando escorreguei de chinelos e caí de rabo nas escadas do prédio, e
como não tínhamos gelo usei uma embalagem de vegetais congelados para acalmar a
dor no cóccix.
Quando a Alana ficou entalada entre as portas da carruagem do comboio
de Bolonha.
Quando a Matilde caiu da coluna de uma discoteca e ficou estatelada no
chão, como uma tartaruga virada ao contrário que não se consegue levantar.
Quando 3 rapazes desconhecidos se ajoelharam no meio da rua para nos
cantar “New York, New York”.
Pérolas como esta:
“São sempre momentos críticos,
estes do último autocarro da noite. Como o Sean bem referiu (com o nariz
esbugalhado contra o vidro da janela), parecemos as populações africanas que, desesperadas, vão a correr atrás dos
visitantes estrangeiros gritando “Take me with you! Take me with you!”.
E tantas outras coisas...
Rio e volto a confirmar o que já sabia: aqueles seis meses em Siena foram
os dias mais felizes da minha vida.
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