Os Reis...
Em Espanha as crianças sofrem mais que em Portugal,
primeiro, porque têm de esperar até dia 6 de Janeiro para abrir as prendas de
Natal. Imagine-se, os apuros e as angústias de tamanha espera!
E depois, porque
são obrigadas a assistir de pé durante horas a fio (e a guardar lugar durante outras tantas horas) à “cavalgada” dos reis, um
desfile como o do Carnaval de Loulé, mas com os Reis Magos como protagonistas em
vez das bailarinas semi-nuas.
Ontem, véspera de dia de Reis, o céu estava contente, o sol
sorridente e eu lá fui toda catita, Rambla abaixo em direção ao Mare Magnum,
para me sentar à beira-mar, debaixo da ponte. Entre o teleférico e o Mont Juic,
seguindo o rumo indicado pela estátua de Colombo para me perder com exatidão
nas páginas do meu livro. Num momento de deleite e relax, paz e inspiração.
Ao chegar, achei estranho que estivessem ali mais 500
pessoas em busca do mesmo momento, no mesmo sítio. Uma aglomeração sem precedentes.
O acesso à ponte estava cortado porque não cabia ali vivalma.
Câmaras fotográficas e telefones erguidos, prontos para
registar o momento. Mas que momento? Mas o que é isto? Uma pessoa agora não
pode ler um livro em paz?!
Eram os Reis. Pois é. Os reis fazem a sua “cavalgada” no dia
5 e, aparentemente, chegam em barco, pela ponte do Mare Magnum.
É uma “cavalgada” sem cavalos que dura horas a fio, que paralisa
as ruas e convulsiona a cidade. E começa
ali, no meu spot de leitura. Que honra!
Fui para casa desanimada e embatendo de frente contra um
vento polar. No caminho ainda ouvi um pai gritar à sua criancinha “Não te quero
assim com essa cara a cavalgada toda! E se te doem as cervicais aguentas-te!”.
Nascer e crescer em Portugal não tem muitos benefícios, mas
também não é tão mau como parece!
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