Quando não podemos dizer que não...
Conheço o vocalista de uma banda de samba/pagode. Já o
conheço há muitos anos, quase tantos como os que vivo aqui. Ele também é
conhecido, já tocou por todos os lados e superfícies de Barcelona. É brasileiro,
boa onda, simpático e pronto sabe cantar e sabe dançar que é o que é
importante. Não diria que somos amigos chegados, vemo-nos casualmente quando eu
estou onde ele canta, mas é sempre um prazer vê-lo porque dou um pezinho de
samba. Eu não sei sambar, que fique claro. Mas um pezinho de samba meu, segundo
os padrões europeus, é todo um miniespectáculo. Fosse no Brasil e teria
vergonha de dançar, porém aqui, até dá para impressionar.
Não querendo descriminar ninguém, a verdade é que a maioria
das pessoas europeias, em comparação com as da América latina, parecem postes
de eletricidade a dançar, imagine-se a sambar!
Eu, na minha qualidade luso-braileira com ascendência hispânico-germânica,
classifico-me mais como um moinho de vento do que um poste de eletricidade. Não
sirvo para desfilar no sambódromo, mas pelo menos ainda mexo alguma coisa, que é o
mínimo depois de tantas aulas de ballet, dança do ventre e hip hop.
Ora isto tudo vem ao caso porque no Domingo passado (agora
os Domingos são o dia das melhores festas e calha mesmo bem porque também são o
único dia em que não trabalho), estávamos eu e o vocalista no mesmo brunch. Até aí tudo arco-íris e confetti.
Ele lá começou a cantar enquanto eu falava descontraidamente com uma amiga.
Eis se não quando e tormentosamente de repente, sinto um puxão
de braço que quase me arranca a clavícula. Era o fofo do meu amigo, que achou que a
melhor maneira de quebrar o gelo e começar a animar a malta era pôr-me a
dançar. Com ele. No meio do palco. Com toda a gente a olhar.
Ofereci a resistência que pude, que na verdade foi mais pânico
do que resistência propriamente dita. Dali a 3 segundos lá estava eu on stage,
a balançar-me qual moinho de vento, entre o saxofone e a pandeireta. Por uma
questão de educação, por conhecê-lo há tantos anos, não o podia deixar
pendurado.
Foi um momento estranho, não é fácil ter de dançar em
público no meio do palco sem nem sequer saber a canção.
De pijama em frente
ao espelho de casa sou a Madonna e a Jennifer Lopez, até sou a Beyoncé se for
preciso!
Mas ali no apuro imprevisto da situação, com tanta gente a
olhar e sem ter bebido nada, fui toda movimentos tímidos e sorriso imóvel, com
muito cabelo na cara, numa tentativa escusada de passar despercebida.
Enfim, coisas que me acontecem a mim...
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