Pânico na passarela
Ensaiámos.
Abdiquei do meu único dia de descanso para fazer um desfile
de moda. Não era uma passarela profissional, era uma barra de bebidas no meio
de uma discoteca, ao mais puro estilo “Coyotte Bar”.
Ensaiámos.
Um desfile descontraído, sem saltos altos para evitar um
suicídio coletivo. A barra era demasiado alta, demasiado estreita e demasiado
escorregadia.
Ensaiámos.
Chegámos às 13.00 em ponto, para um desfile marcado às 17.30
que começou por volta das 19.00h.
Ensaiámos. O importante era marcar os tempos para não ficar
ninguém abandonado a desfilar sem a música. Eu abria o desfile. A pressão ao
rubro. Se eu me enganasse no passo de partida, ia tudo às bananas! Se me
lançasse antes sobrava música, se me lançasse depois a música não chegava para todas.
Ensaiámos.
Subia ao palco. Dançava. Parava com a parte instrumental e
arrancava o desfile quando entrasse a voz. Não era difícil.
Ensaiámos. (Com cronómetro e tudo!).
Chegado o momento, a adrenalina começou a acelerar o
coração. Havia muita gente. Centenas de
pessoas, várias ali coladinhas à barra, tão perto que seriam capazes de ver um
pelinho da virilha que tivesse escapado à cera de chocolate.
Estava assustada, estava nervosa, estava excitada. Estava
num tudo e nada, com a mente vazia e a mil por hora ao mesmo tempo. O Dj começou
a tocar, apareceram os bailarinos, fizeram-me sinal para entrar. Suspirei um “por
favor Deus não me deixes cair da barra abaixo” e lá fui eu!
Entrei, dancei, dancei e continuei a dançar, a dançar, a
dançar.......com um foco de luz apontado todinho em mim, como se fosse uma
aparição da Virgem Maria em biquíni (sim, era um desfile de roupa de banho). Foram segundos eternos de pânico, sem saber o
que estava acontecer, onde estava a minha parte instrumental, a minha pausa, a
minha marcação para começar. Será que já tinha passado e eu não me tinha
apercebido? Será que ainda estava por vir? Será que ia ficar ali a dançar
sozinha a música toda com centenas de miradas expectantes postas em mim? Olhei
em volta, os organizadores, as assistentes, o desenhador, estavam todos tão
perdidos como eu. Continuei a dançar e a rir, o sorriso mais falso que já fiz
na vida! Até que tive que me girar para encarar o Dj e tentar perceber o que é
que se estava a passar. Foi então que um
dos organizadores me gritou que fosse, vai, vai, sai! E eu saí hesitante, que
aquela não era a minha marcação, não era o tempo, não era nada do que tínhamos ensaiado!
Fui, tropecei discretamente a meio do caminho, mas não caí e
ninguém reparou. Caminhei cm um sorriso enorme, sempre um sorriso enorme!
O desfile foi um sucesso e uma diversão. O público foi
receptivo e o ambiente não podia ser mais festivo e descontraído. No fim,
explicaram-me que o que aconteceu foi que o Dj (que não estava presente nos
ensaios) pôs um remix diferente daquele que tínhamos ensaiado. Ou seja, era a mesma canção,
mas diferente, sem a parte instrumental que marcava o meu arranque.
E assim, de um desfile de moda sai uma grande lição. Podemos
preparar, calcular, ensaiar e cronometrar as coisas quantas vezes quisermos.
Podemos tentar controlar tudo, mas no fim das contas, a vida é um improviso em
versão freestyle.
E o importante é nunca perder
o sorriso!
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