Às cabeçadas com o tofu
No outro dia fui comprar água ao supermercado biológico que tenho aqui ao lado de
casa. Não é que tenham água biológica, ou que eu compraria água
biológica se a tivessem, mas o pack de 6 garrafas de litro e meio é pesado e
este é o supermercado que menos dista da porta de minha casa.
À espera para pagar reparei num croissant que dizia “Croissant de
frankfurt de tofu”.
Indignei-me logo ali!
Hoje em dia qualquer pessoa pode escrever qualquer coisa em qualquer
sítio e ninguém diz nada. É demasiado fácil abusar das palavras e confundir os
termos para escrever coisas mais “vendíveis”. Não há respeito pelos
significados, vivemos um niilismo verbal que se está pouco marimbando para a
semiótica. É um descontexto pespegado! Estará Camões a dar piruetas nos Jerónimos, esteve ele ali com tantos trabalhos a contar verso por verso dos Lusíadas para que tivessem todos 10 sílabas e vem agora o tofu dar cabo da literatura.
Não me mal interpretem, acho maravilhoso que queiram fazer croissants
de tofu! Mas então não lhes chamem frankurt. Aqui, um frankfurt quer dizer uma salsicha.
Uma salsicha de porco, daquelas que se metem nos cachorros quentes. Aliás, um frankfurt
é um cachorro quente. Pelo que, claramente, é impossível um frankfurt ser de
tofu. Se é de tofu, na melhor das hipóteses poder-se-ia chamar “Croissant de spring
roll de tofu”. Mas nunca um frankfurt de tofu.
É como dizer, croissant de queijo da serra de tofu. Não meus anjos, o
queijo da serra não é de tofu, é de leite de ovelhas de Celorico da Beira!
E o frankfurt é de salsicha de porco.
E o croissant é de tofu. E por muito tuning que lhe façam ao nome, um
croissant de tofu nunca vai ser tão “cool” como um croissant de chocolate ou um
de fiambre e queijo, ou um de salsicha de verdade.
Essa é a dura realidade.
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