O hipopótamo que queria conhecer o mundo
Vi no telejornal que um hipopótamo atravessou uma passadeira
numa pequena cidade do Sul de Espanha.
Mostraram um vídeo caseiro do animal a passear pela rua, tão
tranquilo e relaxado de sua vida, faltava-lhe apenas a máquina fotográfica
pendurada ao pescoço.
Entrevistaram os vizinhos que se depararam com o hipopótamo
enquanto tomavam o café ou saíam a jogar o lixo. É sempre uma surpresa
agradável, cruzar-se com um animal selvagem com 1.500kg à porta de casa.
Ainda assim, as reações eram bem mais de espanto e
curiosidade que de medo ou drama. Todo o tom da notícia era meio jocoso, como
um fait-divers divertido. Não houve mortos nem feridos, nenhum acidente de tráfico,
nenhuma lesão para o animal. Tudo dentro do normal. Tirando haver um hipopótamo
na calçada.
No fim da peça respondiam à pergunta que toda a gente se
estaria a questionar. Como é que o hipopótamo foi ali parar?
Ora bem, a razão não podia ser mais simples. Não voou, não
passou por baixo da cerca, não abriu a jaula com as suas patinhas, não largou a
correr a toda a velocidade. Há um circo na cidade, alguém deixou a porta aberta
e ele lá foi à sua vida, cheio de sonhos e vontade de conhecer o mundo!
O treinador aprontou-se a ir resgatá-lo e tudo acabou
bem.
O que me inquieta é o seguinte: como seria esta notícia se
tivessem deixado aberta a porta dos tigres?
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