Experiências de vida
Este fim-de-semana tive a minha
primeira experiência como racing girl de Moto GP. Foi também a minha primeira
experiência de quase atropelamento por uma ou várias motos. Até então, só sabia
o que era ser quase atropelada por uma ou várias bicicletas.
Ser racing girl não foi bem o que
me ensinaram no Master, nem na licenciatura, nem no intensivo da NY Film
Academy. Uma pessoa pensa que não é preciso formação para ser racing girl, que
é só preciso ser jeitosa e sorrir para todos os lados. Uma pessoa que pense
isso engana-se profundamente.
Entre andar pelo paddock e fazer
o pitwalk eu estava ali às aranhas. Mas a melhor de todas foi quando nos
disseram que tínhamos que estar às 10.30h na box para ir para a parrilla, qual
linguiça de porco.
Ser racing girl é assim como
estar a afundar-se e não saber código morse.
Percebi que a box era o estaminé
da garagem, agora a parrilla, a parrilla deu cabo de mim. A única parrilla que
conheço é a do assado argentino, que tive o privilégio de comer à beira rio em
Puerto Madero, Buenos Aires.
Pensei então em todos os
paralelismos possíveis e entre coxinhas de frango, costeletas e chouriços a
assar, digo-vos já que não me deu vontade nenhuma de ir para a parrilla.
Mas lá fui mais o meu guarda-sol,
para dar sombra ao piloto. A parrilla é a “pista de decolagem” das motos. Metem-se
ali todas em fila antes de arrancar, rodeadas de uma parafernália de técnicos y
staff, ante as miradas atentas de centenas de espectadores que gritam das
bancadas. Há fotógrafos e jornalistas pelo meio, um exército de racing girls que
se entreolham de longe com minúcia de lupa, para confirmar que são mais giras
que a do lado, e todos os pilotos com as
suas motos, em profunda concentração.
Quando se vê na televisão também parece
fácil estar ali a aguentar o guarda-sol, mas na verdade não param de dar-nos
indicações: muda de lado, vai para a direita, agora mais para a esquerda,
põe-te atrás e o melhor é não te mexeres porque por aqui passam motos.
Um mix de stress e adrenalina com
posição de estátua sorridente, para os fotógrafos. E depois, a pergunta do euro
milhões: como e quando é que eu saio daqui??? Não vão arrancar conosco aqui no
meio...certo? Vai dar tempo de sair tranquilamente, não vai?
Como um anjo caído do céu, o
senhor que disse para eu não me mexer, veio dizer-me que quando visse as miúdas
à minha frente a ir embora era para ir também atrás delas. Fácil. Até eu
percebi. Não havia margem de erro possível. Assim que deram o primeiro passo eu
avancei para bingo atrás de uma loira. Fui avançando por essa parrilla afora tão
segura de mim mesma, como um pavão real pendurado num guarda-sol, até ser
interceptada por um senhor aos gritos. Gritava-me o amigo que tinha de sair
pelo outro lado, que a corrida ia começar e eu estava no meio! Oh que delícia!!!
Justamente a partir daquele ponto, a saída era
para outro lado, portanto não podia seguir as da frente. Tinha que seguir as de
atrás. Mas eu não vejo para trás não é meus fofos?!
Ai Jesus Maria José, andei ali às
semi voltas sobre mim mesma, carregando o pânico no coração, sem saber que
tinha menos de 10 segundos para sair da parrilla. Assim que entrei no caminho
certo começou o rum rum dos motores e pouco depois arrancaram.
Em conclusão: ser racing girl não
só requere formação como também é uma profissão de alto risco!
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