A resistência ao Pokemon Go
Vou começar por contar que há muitos anos, quando eu ainda
andava no ciclo, aparecerem os desenhos animados do Pokemon e na minha equipa
de basket cada uma adoptou o nome de um deles. Eu era o Charmender, um dragão
cor de laranja que cospe fogo.
Uns anos antes, aconteceu a mesma coisa com as
Spice Girls. Nesse caso eu era a Geri, que sempre tinha mais a ver comigo que um dragão
cor de laranja que cospe fogo, mais que não seja por ser uma pessoa. Confesso que as Spice girls tinham imensamente mais
piada que os Pokemon, aliás, o próprio Dragon Ball dava 10 a 0 ao Pikachu, até
porque o Pikachu não desenvolve uma conversa muito mais além da repetição
constante do seu próprio nome. Mas sei lá, na altura era a moda, ali naquela
curva depois dos Backstreet Boys e antes dos Morangos com Açúcar.
Ora em plena febre dos Pokemon, havia uma pessoa que não
passava cartão àquilo. Que muito provavelmente não sabia distinguir o Pikachu do
Charmender. Essa pessoa era o meu pai. Lembro-me que o meu pai, bom homem, levou
a minha irmã e as amigas ao cinema para ver o filme dos Pokemon. Enquanto as
miúdas vibravam o meu pai ressonava na cadeira, tão cómodo e descansado de sua
vida, aproveitando que a sessão da tarde coincida perfeitamente com a sua hora
da sesta. E não havia cá efeitos especiais que o acordassem. Conta a minha irmã
que foi sono profundo, impenetrável, do princípio ao fim.
Isto tudo para dizer que agora que o mundo está viciado no Pokemon
Go e o jogo virou trendy topic, study case, hot spot e todas essas modernices,
agora que as pessoas saem à rua para caçar bichos virtuais com o telemóvel,
agora que a Nintendo está confiante de ter encontrado a última coca-cola no
deserto das app, eu ponho a minha mão no fogo em como o meu pai não joga
Pokemon Go!
E com essa certeza apercebo-me que o meu pai é um verdadeiro
radical, o antissistema por excelência, se não vejamos: não joga Pokemon Go,
não tem Instagram nem Snap chat e não saberia identificar as irmãs Kardashian
pelos nomes.
Eu, por enquanto, também não tenho nem penso ter Snap chat e
não instalei a app do Pokemon Go. Acho, sinceramente, que vai pelo mesmo
caminho do tamagotchi, quem não o deixou morrer que atire a primeira pedra.
Afinal, quem sai aos seus não degenera. Ou só um bocadinho, vá. Tenho Instagram e sei os nomes de todas as Kardashian (via assiduamente o
reality quando vivia em NY, shame on me!).
E se a Sony lançar uma app com a nuvem mágica do Songoku, também não prometo nada!
Comentários