Só uma vez, para variar...
Vi uma gota de água cair do teto da casa de banho. Não
dei importância até sentir as gotas a caírem-me na nuca, enquanto estava
sentada na retrete. Que agradável não é?
O que começou sendo uma chuva molha parvos,
rapidamente se transformou num forte aguaceiro, impossível de parar. Principalmente
à uma da manhã. Acreditem, eu tentei de tudo: colei pensos higiénicos nos
pontos de desague e montei uma tenda com o edredom para criar uma espécie de
guarda-chuva, fofo e gigante. Esforços em
vão, que resultaram num desses momentos de frustração em que desejávamos mesmo
ter um homem em casa. Até que nos lembramos (porque o senhorio nos diz ao
telefone), que podemos cortar a água.
No dia seguinte, descobrimos que a caldeira estava
rota. Perdia água por todos os tubos, o que tinha formado ali um tsunami que continuou
a cair em toalhas e alguidares durante o fim-se-semana.
Ontem vieram trocar a caldeira. Cheguei às 9 da
noite do trabalho e pude constatar que já não caía água. Tudo sequinho. Seco, seco e
sujo, sujinho.
Deixaram-me a casa num estado de reforma mal feita,
com uma camada de pó a levitar pelo chão, manchas brancas por todos os lados, todas
as minhas toalhas de banho empapadas e abandonadas ao Deus dará e pregos
ferrugentos no duche.
Mas guardaram o melhor para o fim! Num ataque de
iluminismo, estas mentes privilegiadas decidiram que o tupper ware que eu tinha
a secar no lava loiça era o recipiente mais indicado para enfiar uma toalha
encharcada de água e sujidade. O tupper ware da comida, que estava a secar no lava
loiça. E que depois colocaram no alguidar, também devidamente conspurcado, que,
como não, deixaram em cima da kitchenette onde eu cozinho. Ah e tal se calhar
estavam com medo de sujar o chão...mas espera, o chão já estava todo sujo!
E eu pergunto, esta gente é estúpida ou faz-se? Isto
é obra para merecer um prémio Nobel de idiotice clássica. Não, não estou a ser
má. Digo-vos mais, a caldeira nova que eles instalaram tem menos pressão e dá
aproximadamente 30 segundos de água quente, o que é claramente insuficiente
para passar o amaciador.
A boa notícia é que vão voltar. Vão voltar para
tapar o buraco da caldeira, que está ali a teto aberto. Mas vão mais longe e vão
pôr um teto todo novo de acrílico, que muito entusiasma ao meu senhorio. Eu mal posso esperar para tê-los aqui a refazer
o teto! Vou já comprar mais tupper wares e mais toalhas, só para eles poderem
trabalhar à vontade.
Diz-me o senhorio para eu não ficar chateada, que
estas coisas acontecem, que tudo tem solução, que não é assim tão mau, que
podia ser muito pior. Dirão vocês que até estamos no Verão, um banho de água
fria não faz mal a ninguém.
Eu digo sim, têm razão. Têm todos razão. Há uma infinidade
de coisas piores a acontecer no mundo e milhões de pessoas imensamente mais
desafortunadas do que eu. É só ver o telejornal e lá estão elas, coitadas.
Mas não seria tão lírico-bonito se um dia, só para
variar, em vez de me acontecer uma coisa que podia ser pior, me acontecesse uma
que fosse só boa. Uma coisa boa, só uma!
Chegar a casa e ter ganho a lotaria...ou qualquer
coisa assim.
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