Um fim de ano especial, com festa no Palácio Real!
2018: dia
3.
Continua
tudo igual, não ganhei a lotaria de ano novo, nem a de Natal, basicamente porque
também não joguei.
Estou
constipada, o que é sempre chato, mas começar o ano empapada em tosse e ranho é
especialmente pessimista. Ainda assim, estou feliz e agradeço a Deus que o
constipado só tenha atacado depois da noite de 31 de Dezembro (e muito
provavelmente por causa dela), permitindo-me aproveitar o meu réveillon em
Itália à grande, como a ocasião merecia.
Adoro Barcelona, mas quando já conhecemos a cidade de fio a pavio, também cansa. Por isso, e pela inundação de turistas bêbados que aqui aterram com esta quadra, não queria absolutamente passar outro fim de ano na cidade Condal, queria fazer algo especial, ou diferente vá, algo diferente já me faria contente.
Fiz as malas e pirei-me para Itália a 31 de Dezembro, pode-se dizer que passei o último dia do ano nas nuvens...
Disseram-me que íamos a uma festa num castelo. Mentiram-me. Era um autêntico palácio!
Chamava-se Reggia de Venaria, no original italiano, Palácio de Venaria em vulgo
português, antiga residência da família real de Savoy e património da UNESCO.
Era de
noite, e por isso não vos posso contar detalhadamente como é o Palácio por
fora, intuo que grande e com jardins, mas deixo aqui algumas fotos raptadas ao querido
do Google, só para termos certeza.
Lembro-me que havia uma rena gigante
luminosa no centro de um jardim, sobre a qual arrisco dizer (sem qualquer
certeza) que estava no “Cour d’honneur”, onde, de acordo com a Wikipedia, havia
antigamente uma fonte com um veado.
Por dentro,
posso dizer-vos que o palácio é grande o suficiente para albergar 3 estações de
guarda-roupa para deixar os casacos, e que todos os passeios e galerias que percorremos
até chegarmos à galeria que albergava o jantar, contam como um workout.
Os tetos gigantes
armados em cúpula, as escadarias imperiais, o espaço amplio e frio, porque se Turim
já não fica nas Bahamas, agora imaginem o Inverno dentro de um Palácio de pedra.
A mesa
posta com primor numa galeria em que contrastavam a escuridão de um jatar imperial
a velas, durante o Renascimento, com a tecnologia audiovisual projetada nas paredes,
que nos envolviam nas pinturas de Caravaggio. Descobrimos que o jantar se
chamava “experiência Caravaggio” e que por muito bonitos que fossem os quadros
do senhor, talvez não fosse o melhor ambiente para um jantar de fim de ano, não
só porque a música que os acompanhava era melancólica e taciturna, capaz de
embalar qualquer sofredor de insónia, mas porque a um certo ponto nos “saltou”
em cima uma pintura com uma pessoa a ser degolada. Isto, no seguimento de um
quadro que nos dava a arrepiante sensação de estar a afundar com o Titanic, numa
noite de tempestade. Já era quase meia
noite e uma degolação não estava contemplada nos nossos desejos para acompanhar
as badaladas de champanhe. Badaladas que, para descontentamento geral, a
tecnologia audiovisual não mostrou nas paredes, pelo que tivemos que improvisar
a contagem decrescente nos telemóveis, brindando assim a meia-noite, talvez um
minuto antes, talvez um minuto depois, sob o olhar atento das obras primas de
Caravaggio, em perspectiva.
A festa
correu muito melhor do que o jantar, sem querer desmerecer a decoração, o
pintor nem a projeção, que estavam ótimos, e com certeza teriam sido muito mais
apropriados se de um funeral se tratasse. A comida era de catering e, portanto,
não tendo estado má, também não mereceu elogios. Era farta, isso sim, serviram alguns
10 pratos, que era preciso empatar tempo das 9 à meia-noite.
Depois de
outro workout para chegar à galeria onde se desenrolava a festa em si, com Dj,
bar e essas coisas menos Renascentistas, encontrámos uma porta delineada por
duas cortinas vermelhas de veludo e, como se estivéssemos mesmo dentro de um filme
de época, avançámos por uma galeria imensa e sumptuosa, num misto de
curiosidade e deslumbre. Já estive em muitas festas e eventos, mas nunca
nenhuma num espaço tão majestoso e espetacular como este.
Tinham-nos
guardado uma mesa com sofá e deixaram-nos dançar no palco, onde a vista se
perdia na imensidão da sala, pomposa e vibrante, com centenas de pessoas tão
maravilhadas como nós. A experiência jantar Caravaggio foi riquíssima, sem
dúvida, mas a experiência festa num Palácio real em Itália, com direito a zona
vip e bebidas grátis, foi uma num milhão.
Bella,
muito bella mesmo, uma pena que não houvesse DJ’s nem focos de luz no tempo das
princesas que viveram ali, porque a passagem de ano de 1700 poderia ter sido épica,
como a nossa!
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