Diz que está de moda...
Ora então diz que está de moda um livro chamado
Sapiens do autor israelita Yuval Noah Harari. Vi-o girar pelas redes sociais,
sempre em mãos masculinas.
O que
poderia ser o nome de um manual de biologia, é um dos best-sellers do ano!
De tanto o
ver ficou-me na cabeça, até que um amigo me recomendou dizendo que aquilo era o
que os homens liam e que se queria entender como os homens pensam, tinha que
ler o Sapiens.
Ora eu que
nem sei como é que eu mesma penso, acho que isso de entender como os homens
pensam está sobre valorado. Primeiro, gostaria de entender-me a mim, saber
porque é que um dia acordo em modo Beyoncé no dia seguinte já acho que estou
gorda mas, não obstante, vou comer nachos e crepes com Nutella. Eu, que nas
segundas nunca quero fazer nada e quando chega o domingo e posso ficar o dia
todo na cama, quero fazer tudo menos ficar em casa.
Eu, que já não
me cabe mais roupa no armário, mas nunca tenho nada para vestir. Eu, que não sei
de que par de sapatos gosto mais, nem que música me apetece ouvir.
Eu, que sou
um mistério para mim mesma e que me importa meio pepino o que é que os homens
gostam de ler, lá fui à livraria para comprar o Sapiens.
Foi fácil
encontrá-lo, arrumadinho na prateleira de literatura em inglês (porque não há
uma de hebreu), ao lado de outros dois volumes da mesma coleção, que isto quando
há um que vende depois espetam-nos logo com mais 3 ou 4 que, regra geral, deixam
sempre a desejar.
Na
contracapa uma citação do Obama confere credibilidade e força ao Sapiens,
depois há mais alguém que diz que aquele é o melhor livro que já leu na vida, e
de duas umas: ou não leu grande coisa, ou quer ser assombrado o resto da vida
pelo Saramago, o Gabriel Garcia Márquez, o Cervantes, o Homero e todo o clube dos grandes escritores
mortos.
Fiz o que
faço sempre no meu delicado processo de seleção literária: abri o livro numa
página ao acaso. Saiu-me a revolução industrial. Ok. Sempre gostei da história
da revolução industrial, mas não é nada novo. Vamos experimentar outra página.
A revolução agrícola. (Gosto mais da revolução industrial). Mais atrás a pré-história
e mais à frente… as guerras do século XX e a ausência de uma guerra no séc.
XXI.
Por muitas
páginas que abrisse, a conclusão parecia ser sempre a mesma: o Sapiens é um
resumo dos meus livros de história do 7º ao 12º, com menos imagens.
Parece-me
maravilhoso como conseguiram descobrir um nicho tão potente de público
masculino que faltou às aulas de história/não prestou atenção ao professor. Não
me admira que nenhuma mulher ande aí com o Sapiens debaixo do braço, porque a nós
bastou-nos aprender a revolução industrial uma vez durante a adolescência para
entender o impacto que teve no mundo.
Devolvi o
livro à prateleira, posto que assim de repente pude contar aproximadamente 0 coisas
sobre as quais eu não tenha já lido e pensado. Sem ofensa para o autor, que
depois fui ver e, efetivamente, é um Professor de História, portanto se
pensarmos um bocadinho faz sentido que tenha
escrito um livro de história. E escreveu muito bem, nada negativo a comentar
sobre a qualidade gramática e informativa. Eu é que não vejo muita piada em ler
uma história que já sei como começa, como acaba e o que é aconteceu no meio.
Folhear o Sapiens
bastou-me para voltar para casa com a sensação de objetivo cumprido: os homens da
minha geração pensam com uns 10 anos de atraso e gostam de coisas básicas, factuais
e fáceis de entender, como um livro de história para miúdos de 14 anos.
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