O síndrome de Bridget Jones
Ela disse
que tinha coisas para me contar e eu disse que também, afinal, não nos víamos
desde o Verão.
Enquanto
jantávamos só eu é que falava, ela assentia, ria, comentava, quem não
conhecesse não notaria, mas eu sabia que ela estava estranhamente calada, como
se estivesse à espera do momento certo.
E lá está,
depois de termos comido, bebido e repetido o “solomillo”, ela fez uma pausa
dramática e anunciou que tinha que me dizer uma coisa. Eu tentei desviar-me da
bomba:
- Não me
digas que também estás grávida ou que te vais casar, não me digas isso hoje!
Ela sorriu,
e procedeu a quase esmurrar-me os olhos com o pedregulho do anel de noivado,
até então meticulosamente escondido nas mangas largas.
E eu suspirei,
tentei sorrir de volta com emoção, mas foi um fracasso. Em vez de um entusiasta Uau! Parabéns!, saiu-me
um “Pfff és a milésima pessoa este ano que me diz que se vai casar, ou que está
grávida, ou que pariu…”.
Ao que ela
respondeu, e muito bem:
- E tu não
estás feliz por mim??? Olha vou ali fora fumar um cigarro e deixo-te aqui a
pensar sobre a tua atitude, e quando voltar a entrar por aquela porta espero que
me recebas com a comemoração que eu mereço!
Ela foi e
eu fiquei ali, a pensar.
Este ano,
até agora, foram 2 casamentos, 2 partos, 3 noivados, e 7 grávidas!
Dá uma
média de mais de uma amiga/amigo que se casa ou que vai ser mãe/pai, por mês!
E estou a
falar de amizades de verdade, gente que cresceu comigo, amigas da faculdade, amigas
e amigos de Barcelona que são como a minha família aqui, do meu melhor amigo
com quem tenho fotos mascarados de formiguinhas quando tínhamos 6 anos!
Ou que é
que deu a esta gente, para de repente, decidirem todos casar e procriar ao
mesmo tempo?
Não sabem
que vai haver outra crise? Não sabem que ter um filho custa 100 vezes mais que
uma viajem às Maldivas? Não sabem que há praticamente mais divórcios que
casamentos? E que o divórcio é tão ou mais caro que a boda?
E eu?
Onde é que
eu vou desencantar dinheiro para todos os casamentos, batizados e prendas para
esta manada de crianças que aí vem?
E eu…
Quando é
que eu vou casar e ter filhos?
Acho que aqui
o problema realmente é esse. Uma pessoa passa a barreira dos 30 e começa a
sentir o síndrome de Bridget Jones, com uma série de pressões da sociedade (e
do meu pai que quer muito ser avô), e então começa a deprimir-se por estar
solteira e a pensar que vai morrer mais encalhada que um cachalote na costa Alentejana,
o que por sua vez aumenta a vontade de comer chocolates.
A minha
amiga voltou e eu fiz um esforço para parecer muito feliz por ela, que claro
que estou muito feliz por ela e pelos outros, tenho apenas uma maneira mista de
expressar a minha felicidade porque se mistura que uma potencial depressão. O
que é perfeitamente normal e compreensível.
Mas depois
penso que também não vale a pena uma pessoa ficar em modo ânsias, quando chegarem
o momento e a pessoa certa resolve-se tudo. Entretanto, ainda tenho algumas boas
amigas solteiras, poucas é verdade, mas poucas é melhor que nenhuma.
E o que é
mesmo melhor de tudo é que a minha irmã mais nova, tanto quanto sei, não está
prometida nem grávida, porque isso sim já seria um golpe duro de mais para aguentar.
Só me
faltava essa, voltar a casa no Natal e encontrá-la de anel no dedo ou barriga em
crescendo.
Mas vamos respirar
fundo, pensar em todas as coisas boas da vida de solteira, ser positivas e
esperar que não haja mais “novidades”, pelo menos até ao réveillon!
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